BACKSTAGE | 9 DE OUTUBRO

 

EM CONVERSA COM:

 

 

MIGUEL VIEIRA

 

ModaLisboa - Fale-nos um pouco do tema e da proposta da sua colecção?

Miguel Vieira - A colecção trata de uma viagem de amigos que passam por vários momentos bastante luxuosos e arquitectónicos: partem de um aeroporto, todo ele em vidro, que tem a ver com as transparências da colecção; viajam num avião dourado, que representa o dourado e a luz das propostas, e quando aterram num país, que eu não sei qual é, são transportados para o hotel num Rolls Royce preto, que se traduz nos pretos e em todo o glamour inerente à colecção. Depois ficam vários dias num hotel branco design, daí os brancos, e passam fins-de-semana muito charmosos, com imensos momentos na piscina, por isso os fatos de banho, e momentos mais formais, à noite.

 

Qual a peça mais representativa da colecção?

Todas elas são importantes, mas neste caso específico, este grupo não viaja com malas tradicionais de viagem, mas sim com mochilas, mas mochilas muito elaboradas, pretas, azuis, douradas e em materiais completamente distintos. São peças bastante diferentes, muito trabalhosas e bonitas. É um reviver da mochila para fazer campismo, agora numa vertente mais sofisticada.

 

Se pudesse mudar alguma coisa na colecção, o que mudava?

Não, neste momento não alterava nada. Já estou a preparar a colecção Inverno 2010. Comprei todos os tecidos há quinze dias em Milão e já estou a pensar na próxima, daí que não mudaria nada. Estou muito contente com a colecção e acho que o resultado final é muito bom.

 

Quais são as suas principais fontes de inspiração?

Sobretudo eu sou um bom observador, gosto muito de viajar e de estar sentado num café e em salas de chá a ver como é que as pessoas se comportam. São momentos importantes para a minha inspiração e quando chega ao momento de desenvolver as colecções recordo todas essas imagens que fui vendo e absorvendo e que servem de base de inspiração para a minha colecção.

 

A opinião do público é importante para si?

É super importante. Quando desenho uma colecção penso no público obviamente. Claro que, por exemplo, na ModaLisboa, apresento uns coordenados conjugados de uma maneira, que pode diferir do modo como são apresentadas separadamente, quando são vendidas. No entanto, o objectivo de todas as minhas colecções é vender, é chegar ao público.

 

 

 

ALEXANDRA MOURA

 

ModaLisboa - Fale-nos um pouco do tema e da proposta da sua colecção.

Alexandra Moura: O tema baseia-se no trabalho de um artista plástico, o pintor alemão Wolf Vostell. Ele foi pioneiro numa corrente que é o “Dé-coll/age”, que tem a ver com colagens, que tornam as imagens muito gráficas, foi também pioneiro do Fluxos, dos happenings. Ele criava as suas próprias obras em happennings com o público, a assistência, e com pessoas que criavam a performance e esta colecção tem um pouco a ver com a parte que mais aprecio do trabalho dele, nomeadamente o aspecto muito rural combinado com o lado urbano, as sobreposições, as colagens, as misturas de materiais. Embora não tenha misturado muitos materiais ao nível dos tecidos, tenho apontamentos de diferentes botões, peças que parecem estar coladas a outras peças. Optei por dois tons, o preto e o bege, que também remete muito ao trabalho dele. Vou ter um apontamento de cor, mas mais ao nível dos sapatos, que é o vermelho.

 

Qual a peça mais representativa da colecção?

Um casaco que parece estar sobreposto a outro casaco e que cria um efeito de sombras num dos lados, sombras essas que foram feitas com base na técnica da suposta colagem. Neste caso não é colagem, é tudo cosido mas tem uma parte gráfica que considero muito engraçada.

 

Se pudesse mudar alguma coisa na colecção, o que mudava?

Eu estava sempre a mudar alguma coisa, pequenos pormenores. Aumentava uma peça, tirava outra, porque cada vez que olhamos para a colecção até à realização do desfile, até aos manequins estarem na passerelle, há coisas que nos surgem inevitavelmente na cabeça e que mudariamos. Mas há timmings a cumprir!

 

Quais são as suas principais fontes de inspiração?

É muito relativo. Tanto posso ir buscar uma pessoa, uma imagem, um conceito. Varia muito. Já me aconteceu ir ao Japão e adorar o efeito das sombras criadas no chão e a colecção teve a ver com as sombras. Já me inspirei no mundo das marionetas, ou no cosmos. Já fiz uma colecção sobre a pintora fotógrafa, Loretta Lux, e trabalhar a estética dela. Até a sensibilidade de um desporto de ar como o parapente, o pára-quedas, e todo o conceito que isso envolve: a união de uma forma com o ar, o ar ajuda a forma a ter movimento, a mover-se. É infindável, é muito aquilo que me surge no momento e que faz sentido para mim, que me dá vontade de explorar. O trabalho também tem que me dar prazer.

 

A opinião do público é importante para si?

A opinião é importante depois de tudo ter acontecido, porque no momento da concepção do tema ou do desenvolvimento da colecção eu não penso muito no público. Penso muito no que estou a sentir, naquilo que gosto, se faz sentido para mim, se é coerente, naquilo que me satisfaz.

 

 

 

LIDIJA KOLOVRAT

 

ModaLisboa - Fale-nos um pouco do tema e da proposta da sua colecção.

Lidija Kolovrat: O tema da colecção é Bug Man e foi inspirada no escaravelho e na vida sexual dos animais, no modo como se relacionam e como solucionam de forma natural algumas necessidades. Usamos o escaravelho como símbolo, que é uma espécie que tem muitas mutações e foi esse espírito que influenciou a colecção.

 

Qual a peça mais representativa da colecção?

Várias peças, elas são equilibradas. Por exemplo, um casaco de cabedal amarelo, que tem um escaravelho adulto. Ele luta para ter uma fêmea e para se sentir realizado depende dessa luta. Essa relação é mostrada em várias peças. As jóias são também elementos muito fortes da colecção.

 

Se pudesse mudar alguma coisa na colecção, o que mudava?

Há sempre mais trabalho para fazer. Por exemplo, nesta colecção acho que foram atingidas muitas metas mas podia fazer-se sempre mais, tenho sempre esse feeling. Depois da criação de uma colecção, gosto de lhe dar continuidade como se fosse um caminho a percorrer.

 

Quais são as suas principais fontes de inspiração?

Em cada colecção eu tenho um feeling e procuro uma essência nesse feeling. Nesta colecção foi a masculinidade em si. Na vida dos animais, a sexualidade é tão adaptada à natureza que é uma fonte de inspiração ver como é que as coisas podem mudar tanto. Temos dois pólos, feminino e masculino, mas na vida dos animais, se procurarmos bem, podemos encontrar muitas histórias e por vezes mais do que em nós mesmos que temos a capacidade de mudar e de nos adaptarmos à natureza

 

A opinião do público é importante para si?

Claro. A opinião do público pode ser construtiva e enriquecedora, porque cada colecção tem a ver com uma pesquisa constante e quando o público entende qual é o objectivo é muito bom.

 

 

 

 

BACKSTAGE | 10 DE OUTUBRO

 

EM CONVERSA COM:

 

 

PEDRO PEDRO

 

ModaLisboa - Fale-nos um pouco do tema e da proposta da sua colecção?

Pedro Pedro: Eu parti de uma base clássica e austera. As formas são muito clássicas e femininas, quase a reportar aos anos 40, com cinturas marcadas, ombros largos. A partir daí fui, com algum humor, tentando criar peças bonitas e com um ar algo boémio, com misturas de padrões, de cor e de materiais que eu acho que resultam com algum humor.

 

Qual a peça mais representativa da colecção?

É um coordenado que mistura transparências com padrões e aplicações por cima, que resume um bocado o espírito da colecção, pela mistura de cores e mantendo tudo numa forma clássica e quase seca e austera.

 

Se pudesse mudar alguma coisa na colecção, o que mudava?

Há sempre coisas a mudar, sempre. No dia em que eu fizer uma colecção que diga: “Está perfeita!” então acho que não faço mais nenhuma.

 

Quais são as suas principais fontes de inspiração?

De tudo um pouco: os filmes, a música, o que nos rodeia, tudo o resto. A informação chega-nos cada vez mais rápido e de todo o lado. Tudo pode ser uma fonte de inspiração.

 

A opinião do público é importante para si?

Claro que sim. Tenho sempre em consideração as pessoas a quem eu já vendi e que eu sei que me vão comprar outra vez.

 

 

 

DINO ALVES

 

ModaLisboa - Fale-nos um pouco do tema e da proposta da sua colecção.

Dino Alves - O título é “Bi transparent”, be de ser e bi de bissexual, no sentido de ser verdadeiro, ser honesto, ser sincero e por isso é que aparecem os corações. Eu acho que através da roupa se deveria ver o interior das pessoas. Isso nem sempre acontece, mas seria o ideal, e é por isso que faço um paralelismo entre a transparência, no sentido físico da questão, com a utilização de tecidos transparentes, que deixam passar registos que estão por dentro das peças e sobretudo que deixam ver o coração. Depois há uma analogia entre o diamante e o coração, no sentido em que quem tem um bom coração é uma jóia, é um diamante, como se costuma dizer em termos populares. Também porque o diamante é uma imagem que ajuda a passar essa ideia da transparência. Basicamente é isso: Be transparent, show your heart!

 

Qual a peça mais representativa da colecção?

Nesta colecção não consigo seleccionar uma só peça porque estou muito contente com tudo, tanto com as peças de homem, onde o conceito não está tão visível, mas que têm um lado de diversão, que também acho interessante: à partida parece ser uma coisa lamechas mas depois é muito vibrante, é muito divertida. O conceito consegui-o vincar mais na roupa de mulher. Os homens têm um pouco ar de comics, de saltimbanco. Gosto mesmo muito de tudo, mas posso destacar talvez o último vestido da Erica, que tem corações por dentro e se vêem por fora. Mas há mais: as organzas azuis claras, as peças que têm as veias impressas, etc.

 

Quais são as suas principais fontes de inspiração?

Costumo sempre dizer que é a rua e a vida em geral, a minha maneira de estar, a minha aprendizagem, a minha filosofia de vida. Ou seja, eu tento sempre transmitir uma mensagem com as minhas colecções e nesta, mais uma vez, eu estou a fazê-lo: acho que as pessoas devem ser verdadeiras e transparentes e que não devem ter medo de abrir o coração.

 

A opinião do público é importante para si?

Depende de onde vem a opinião. Quando estou a desenvolver uma colecção não penso muito no público e quem me conhece há mais de 10 anos sabe que sempre fiz exactamente aquilo que quis. Umas vezes pior outras vezes melhor mas sempre fiz o que me apeteceu, nunca tive receio se vão dizer que sou louco ou se a colecção não vai vender. A minha máxima é ser criativo é ser livre e acho que se não formos livres, nunca somos verdadeiramente criativos.

 

 

 

ANA SALAZAR

 

ModaLisboa - Fale-nos um pouco do tema e da proposta da sua colecção.

Ana Salazar: O tema da colecção é “Black is not always back”, porque desta vez não há o preto omnipresente. Há bastantes cores, obviamente que também existe preto, já não se pode viver sem ele, mas basicamente a cor é a grande diferença. A silhueta é ampla, por vezes até oversize, mas com um jogo de drapeados, um jogo de fechos e uma série de elementos que acabam por contornar a silhueta. Também trabalhámos muitos os materiais em termos de volumes e criámos texturas completamente diferentes.

 

Qual a peça mais representativa da colecção?

Por gostar muito do preto, posso salientar os coletes em tiras, pretos e brancos, mas de uma forma geral gosto de todas as peças, senão não as apresentava. Acho também muito interessante aqueles tecidos que parecem encerados e que têm um cair absolutamente extraordinário, completamente fluido.

 

Se pudesse mudar alguma coisa na colecção, o que mudava?

Neste momento, não. Depois dela desfilar possivelmente vou sentir que a próxima tem que ser muito melhor.

 

Quais são as suas principais fontes de inspiração?

Tudo o que está à minha volta, nunca é assim nada muito definido. É muito raro ser um livro ou um filme. De uma forma geral é sempre o sinal dos tempos.

 

A opinião do público é importante para si?

É claro. O vestuário tem que cumprir uma função que é vestir o público e basicamente nós, criadores de moda, não existimos sem as pessoas nos comprarem roupa. Não são peças de arte mas penso que até os pintores ou os escultores têm que pensar dessa maneira. Não é só a opinião que conta, mas o facto de comprarem e utilizarem. Acho que há cada vez mais interesse por criadores nacionais e tem que haver ainda muito mais. 

 

 

 

 

BACKSTAGE | 11 DE OUTUBRO

 

EM CONVERSA COM:

 

 

JOSÉ ANTÓNIO TENENTE

 

ModaLisboa - Fale-nos um pouco da sua colecção.

José António Tenente: Esta colecção parte da ideia de uma aula de modelo nu, da maneira como os tecidos caem à volta do corpo, das pregas, dos panejamentos que são feitos nessas mesmas aulas. As peças foram trabalhadas à volta dessa ideia, como se fossem lençóis, panos que enrolam o corpo, que destapam, que cobrem.

 

Se pudesse mudar alguma coisa na colecção, o que mudava?

Muda-se sempre, apesar desta colecção ter características um pouco diferentes, porque o desfile não é um desfile tradicional. A colecção nem sequer está muito pensada para passerelle e mas sim para a simulação de uma aula de desenho. Mas claro que mudaria alguma coisa.

 

Quais são as suas principais fontes de inspiração?

Neste caso e se calhar neste último ano a pintura tem dominado essa inspiração. Na primeira colecção nem tanto, mas agora percebi mais conscientemente que quero fazer uma espécie de trilogia sobre pintura ou inspirada em momentos específicos da história da pintura.

 

A opinião do público é importante para si?

É sempre, nós trabalhamos para o público.

 

Quando está a desenvolver uma colecção pensa no público?

Não, e esta colecção é um exemplo disso porque realmente não esta pensada para isso. Claro que tem peças comerciais e tem peças que as pessoas poderão usar normalmente, mas de um modo geral não está pensada nesse sentido e sei que vamos ter um trabalho de adaptação ao mercado quando a colecção for para a loja.  

 

 

 

RICARDO PRETO

 

ModaLisboa - Fale-nos um pouco da sua colecção.

Ricardo Preto: A colecção chama-se “Walk on buy” e é inspirada na brisa mediterrânea, nas pessoas bem dispostas, que procuram uma nova silhueta, novas cores. O trabalho que eu tenho vindo a desenvolver tem a ver com uma imagem sana, não agressiva e confortável. Essa é sempre a minha preocupação e nesta estação limitei-me a continuar a observar as pessoas, a continuar a aprofundar as linhas e os traços que eu tenho experimentado.

 

Qual a peça mais representativa da colecção?

Uma das peças que mais gosto é o casaco que vai abrir o desfile: é um casaco a três quartos que foi feito a partir de um casaco comprido, até aos pés, um casaco vestido, e que acho que resultou muito bem porque ainda por cima é um casaco de linho, tem uma forma bionica e num material 100% natural.

 

Se pudesse mudar alguma coisa na colecção, o que mudava?

Se tivesse um ano para trabalhar uma colecção era óbvio que mudava, mas assim em 6 meses, não.

 

Quais são as suas principais fontes de inspiração?

As pessoas, a terra, o universo, tudo o que me rodeia.

 

Quando está a desenvolver uma colecção pensa no público?

É importantíssimo pensar no público, é como um cozinheiro que faz comida para certas pessoas que ele acha que agrada. A minha proposta também é sempre essa. É sempre uma atenção para o tipo de pessoas a que me estou a dirigir. O público vai ser sempre o reflexo do meu trabalho.

 

 

 

AFOREST-DESIGN

 

ModaLisboa - Fale-nos um pouco da sua colecção.

Sara Lamúrias - É uma colecção exclusivamente de peças e de objectos utilitários, de design funcional e o conceito advém do projecto Combo – um projecto que já está na rua e que tem a ver com o desenvolvimento de objectos para intervir em lojas de comércio tradicional. A colecção desenvolve essa temática e compreende um conjunto de objectos e de peças de vestuário que têm dupla função, sendo que algumas se podem vestir de duas formas. As peças têm todas a mesma tonalidade de cor por uma questão conceptual e de imagem que foi definida para o evento. São todas em malha e alguns turcos, mas sempre em tonalidades de cinzentos.

 

Qual a peça mais representativa da colecção?

Vou seleccionar um boné com uma trança, ou seja, é um boné já com cabelo incluído. Além de ser uma das minhas peças preferidas é também muito representativa da colecção.

 

Se pudesse mudar alguma coisa na colecção, o que mudava?

Se me dessem mais um mês, mudava muitas coisas mas eu gosto bastante da colecção. Está muito bem encaixada no conceito que eu defini à priori e gosto de cada peça individualmente. São peças especiais e se tivesse mais tempo fazia mais umas 20.

 

Quais são as suas principais fontes de inspiração?

São muito ligadas ao mundo quotidiano. Uma mistura da vida do quotidiano com coisas que me sensibilizam e de que gosto, como todas as artes – cinema, música, artes plásticas. É uma fusão disso tudo.

 

A opinião do público é importante para si?

Tenho prioridades. Em primeiro lugar, está aquilo que eu decido fazer e paralelamente a isso está o público, porque tenho todo o interesse em que as pessoas usem as minhas peças. Isso é uma prioridade bastante importante.

 

 

 

WHITE TENT

 

ModaLisboa - Fale-nos um pouco do tema e da proposta da vossa colecção.

Pedro Noronha Feio - A nossa colecção tem como ponto de partida a ideia de camuflagem, trabalhada mais a nível das texturas, e ao mesmo tempo a ironia, por termos várias camadas de peças transparentes. Simultaneamente trabalhámos, como sempre, a modelagem das peças, mas não de uma forma geométrica: laçadas, nós, laços, torcidos. A nível de cores é o azul meia-noite aberto, um toque de preto, pêssego, branco, cinza e um dourado.

 

Qual a peça mais representativa da colecção?

O casaco camuflado é uma peça que engloba o conceito de toda a colecção, ou o casaco azul meia-noite com capuz. Usámos muitos capuzes, para esconder a cara, e trabalhámos a ideia de camuflagem através de cortes a laser para criar textura nas peças.

 

Se pudesse mudar alguma coisa na colecção, o que mudava?

Não mudava. Se tivesse mais dois meses continuaria provavelmente a desenvolvê-la ainda mais. É normal, as ideias vão surgindo e encadeando-se, mas estamos satisfeitos com o resultado.

 

Quais são as vossas principais fontes de inspiração?

A linha condutora do nosso trabalho é o trabalhar da modelação, a manipulação de formas geométricas. Neste caso, vê-se uma evolução desde que nos juntámos como colectivo. Passámos das formas geométricas para uma manipulação mais orgânica do que é modelagem – a divisão das mangas, o criar de tiras ou nós. Houve um progresso e actualmente a nossa linguagem está um pouco mais depurada, mais clean.

 

A opinião do público é importante para vós?

Nós, com todas as manipulações que gostamos de fazer, gostamos de manter a colecção contida, discreta, mas sempre obviamente com a sua dose de extravagância. Quando pensamos no público, adaptamos a parte criativa à parte real, à parte vestível, comercial, que para nós é muito importante. Tem de fazer sentido a todos os níveis: se criativamente for estimulante, se comercialmente for viável. Obviamente que quando criamos temos isto tudo em consideração.

 

 

 

NUNO BALTAZAR

 

ModaLisboa - Fale-nos um pouco do tema e proposta da sua colecção.

Nuno Baltazar - A história que está por detrás desta colecção tem a ver com o espírito de viajante, não de turista mas de alguém que parte à procura de uma nova experiência, sem data marcada de regresso e sem destino traçado. Acho que a dada altura na vida toda a gente passa por uma experiência destas, ou pelos menos tem vontade de o fazer. Há, portanto, um espírito muito nómada presente na colecção, mas estas viagens que eu proponho passam por muitos sítios diferentes – passam muito por Marrocos e pela África mais árabe, mas também por centros urbanos mais europeus. Há uma grande mistura de elementos mais citadinos com outras peças, cores e texturas mais étnicas. A colecção é constituída por cores muito neutras, tons de areia, tons muito desérticos mas nos diferentes estados que um deserto atravessa: a manhã, a tarde, a noite, e os diferentes brilhos que a areia, a argila e outros materiais que podemos encontrar no deserto adquirem. As texturas também têm a ver com esse lado muito seco, muito alinhado e natural, em contraste com outras mais requintadas, como sedas hiper leves com texturas nervosas. Depois temos o lado mais sofisticado que é característico da marca e que não podia deixar de estar presente. É uma colecção um pouco mais actual que as anteriores, tem sempre uma componente luxuosa mas um pouco mais contida, mais adaptada à situação real.

 

Qual é a peça mais representativa da colecção?

É um coordenado que a Milena Cardoso vai desfilar e que talvez seja um dos que melhor espelha o espírito da estação porque é um vestido muito feminino, com cores que nos remetem para um ambiente quente, com um efeito de pailettes tricolor que lhe confere um pouco o aspecto de areia. É feito em cetim, que é um material muito feminino e sofisticado, em tons de castanho chocolate e depois é sobreposto com um blazer de grandes dimensões, tamanho oversize, masculino, que vem falar um pouco da história da colecção que passa também pela Kit, uma personagem do filme “The Sheltering Sky” de Bertolucci, que muitas vezes durante o filme usava peças de roupa dele e portanto havia essa sobreposição de peças oversize masculinas sobre peças mais femininas.

 

Se pudesse mudar alguma coisa na colecção, o que mudava?

Eu sinto-me muito contente com o resultado, mas seria quase frustrante pensar que não mudaria nada porque acho que um trabalho de qualquer criativo nunca está completo. Nunca fiz, mas gostava de um dia trabalhar um tema que passasse de uma estação para a outra. O grande gozo que tenho quando estou a desenhar colecções é nos últimos dias e muitas vezes quando acaba o desfile tenho muita vontade de continuar a desenvolver novas coisas e acabo por o fazer na vertente mais comercial que depois chega à loja. O trabalho não se esgota no desfile, mas nunca tenho aquela sensação de satisfação plena.

 

Quais são as suas principais fontes de inspiração?

O cinema é a primeira delas todas, mas nos últimos tempos mais do que o filme propriamente dito ou a realização, a fotografia ou a banda sonora, o que de facto me inspira são histórias de mulheres fortes e como é que isso se pode traduzir em emoções. Eu acho que cada designer ou cada criativo, seja em que área for, tem algo que o distingue ou algo que o move, e a mim o que me move são as emoções. E é por isso que tantas vezes já me apelidaram de “o dramático” da ModaLisboa, por eu realmente ter esse prazer de trabalhar as emoções. Já fiz coisas muito tristes e cheguei a ter pessoas na audiência a chorar, mas também fiz outras divertidas como por exemplo a colecção do Almodóvar, com o travesti. É estranho dizer isto, mas o desfile é muito importante, mais até que a própria colecção. A colecção só vai ser usada daqui a seis meses, que é um espaço temporal muito grande, e se houver qualquer coisa no desfile que realmente marque as pessoas, que crie um desejo de viver uma história ou uma emoção, elas depois vão recordar a marca, independentemente de terem uma peça ou outra que prefiram. É importante a colecção marcar, até porque em semanas de moda como a ModaLisboa há muitas pessoas que vêem uma série de desfiles e a determinada altura é uma roupa atrás da outra. Temos que ter consciência que temos que trazer qualquer coisa pessoal e que dê a quem está assistir algo para levar para casa e que pode ser uma boa emoção. É isso que tenho trabalhado sempre.

 

A opinião do público é importante para si?

Para mim, a opinião do público não é importante no desfile. Contrariamente ao que pensam alguns colegas meus, para mim a importância maior é o manequim, porque quem assiste ao desfile está-lhe a ser contada uma história mas quem sente a roupa e quem está a viver aquilo é o manequim e isso faz toda a diferença: na forma como elas desfilam, na forma como transmitem essa emoção. É isso que de facto me move, fazer com que as mulheres se sintam bonitas é um dos meus principais objectivos. Se a manequim se sentir bonita, o público também o vai sentir. Eu já tive colecções em que tive muito sucesso mas não me sentia satisfeito ou outras em que estava contente mas de alguma forma fui incompreendido. O mais importante como criativo é sentir-me realizado. E acho que quando se sente isso e quando nos entregamos com paixão a um trabalho, o público sente isso.

 

 

 

LUÍS BUCHINHO

 

ModaLisboa - Fale-nos um pouco do tema e da proposta da sua colecção.

Luis Buchinho – A colecção é bastante inspirada em imagens de répteis, em tudo o que eles nos oferecem em termos de cor, texturas e formas. Em relação às formas há também uma abordagem um pouco ligada a silhuetas mais minimais, embora muito decoradas, que partem um pouco da simplicidade dos anos 90 trabalhada de acordo com o novo milénio. Os tecidos são maioritariamente naturais – 100% seda, 100% algodão, 100% linho – pele, camurça, fios de seda nas malhas tricotadas, fios de algodão com misturas de linho e há sempre um contraste entre materiais muito estruturados e rígidos com materiais muito fluidos, que resulta num choque de silhuetas. Em termos gerais, a colecção é dirigida a uma mulher bastante afirmativa, muito segura de si, com uma atitude bastante enérgica e positiva.

 

 

Qual é a peça mais representativa da colecção?
Como tenho dois grupos, tenho que referir duas: uma saia de cabedal feito em patchwork de peles e um colete em patchwork de sedas, lantejoulas e pêlo, porque são os dois extremos da colecção.

 

Se pudesse mudar alguma coisa na colecção, o que mudava?

Acho que mudava muito pouco porque comecei a trabalhar esta colecção há muito tempo, imediatamente a seguir ao Inverno, e foi toda ela feita de uma maneira muito progressiva. 

 

Quais são as suas principais fontes de inspiração?
Imagens de rua, imagens gráficas muito definidas, trabalhos de ilustradores de moda, a natureza na sua faceta mais possível de ser trabalhada a nível gráfico.

 

A opinião do público é importante para si? Quando está a desenvolver uma colecção pensa no público?

Sim. Acho que isso é uma realidade à qual nenhum designer pode fugir, porque nós trabalhamos para o público, não só o público que vê o produto final como todo aquele que nos acompanha na nossa equipa e nos vai sugerindo sempre novas soluções, que eventualmente não nos ocorreriam. Acho que esse público também é importante.  

 

 

 

 

BACKSTAGE | 12 DE OUTUBRO

 

EM CONVERSA COM:

 

 

ALEKSANDAR PROTICH

 

ModaLisboa - Fale-nos um pouco do tema e da proposta da sua colecção.

Aleksandar Protich – Comecei a trabalhar com pele na estação anterior e continuei com isso para a Primavera/Verão 09. A minha fonte de inspiração para esta colecção foi o casaco preto de pele do final da década de 60 e começo da década de 70. Toda a colecção se baseia na imagem e personalidade de Nico, cantora dos anos 60, 70, tentei apanhar a atmosfera do seu trabalho.    

 

Qual é a peça mais representativa da colecção?
São várias. Mas posso citar por exemplo as calças em pele com tiras.

 

Se pudesse mudar alguma coisa na colecção, o que mudava?

Muda-se sempre alguma coisa até ao último dia. Agora, fazia mais umas 20 peças.

 

Quais são as suas principais fontes de inspiração?
De um modo geral, não tenho fontes de inspiração muito específicas, tenho a minha linha e acho que o público já percebe qual é, já percebe qual a mulher que eu crio. Trabalho muito a forma, essa é a minha inspiração.   

 

Quando está a desenvolver uma colecção pensa no público? A opinião do público é importante para si?

Não, neste momento não penso nada no público. Só penso no meu trabalho e como até agora o público sempre gostou, estou tranquilo em relação a isso.  

 

 

 

NUNO GAMA

 

ModaLisboa - Fale-nos um pouco do tema e da proposta da sua colecção.

Nuno Gama – É uma história que tem muito a ver com a minha recente ida a África aquela arquitectura dos anos 50 e 60, o património que deixámos, o tipo de personalidades, os grafismos das notas dos Big-Five, que são os cinco principais animais africano, e ao mesmo tempo não tem nada a ver com isso e tem a ver com uma série de coisas retro e com um certo glamour dessa época e a forma como as pessoas se vestiam: a importância do blazer – o vestir o blazer para ir trabalhar, para sair à noite, para ir jantar fora, para ir a uma festa e todas essas situações. Por outro lado, são uma série de coisas que eu acho que são extremamente contemporâneas. No fundo é trazer essas fórmulas com uma adaptação ao dia-a-dia de hoje. Os materiais são muito confortáveis, como algodões e sedas. Em termos de tonalidades, é uma paleta que faz lembrar as minhas fotografias de infância - pretos, cinzentos claros, bege - e tenho inclusive uma t-shirt como uma fotografia minha quando tinha 6 anos. Depois existem apontamentos de pastéis, como rosa, lilás, verde água, azul, que vão aligeirar e dar um ar mais veraneante a toda a colecção.  

 

Qual é a peça mais representativa da colecção?

Existem várias. Há um pormenor que marca esta colecção: pelo facto de eu fazer 20 anos de carreira, achei que deveria assinalar as peças com esse 20, para dizer: esta foi a colecção em que fiz 20 anos. Por isso brinquei com um logótipo, que é um 20 com uma cruz Nuno Gama e fiz-lhe várias associações: 20 gamar, 20 beijar, 20 comer, etc. Acho que são essas peças e esse simbolismo dos 20 anos que acabam por ser mais marcantes.

 

Quer fazer um balanço destes 20 anos de criação?
Imenso trabalho, aprender imensas coisas todos os dias, evoluir imenso, respeitar imenso a vida, respeitar imenso as pessoas. Em suma, viver a vida!

Quais são as suas principais fontes de inspiração?
A vida em geral. Não me inspiro em coisas muito específicas, acabo por me inspirar em muita coisa. Por exemplo, ao ter estado 1 mês em África, fez-me olhar para o país de uma maneira diferente, olhei para uma África cosmopolita e urbana e transpus isso para o nosso mundo actual europeu. Depois tenho muito em consideração os meus amigos, as pessoas que me rodeiam e as suas necessidades. Alguém me diz “Apetece-me imenso um blazer” e começo a perceber que tipo de peças é que as pessoas estão à procura. Por exemplo, as singlets ou as t-shirts de cavas: cada vez mais os meus amigos vestem essas t-shirt que antigamente eram associadas aos trolhas ou camionistas. Hoje em dia é uma peça que se usa imenso na rua e que as pessoas adoptaram e sobretudo acho que é interessante brincar com ela de várias formas, que podem ir desde peças quase formais até às mais desportivas.  

Quando está a desenvolver uma colecção pensa no público? A opinião do público é importante para si?
Claro que sim. Penso sobretudo no meu público final, no que me faz as compras. Não faço colecções para os meus amigos ou para mim, faço-as para um público muito específico: o meu público.   

 

 

 

LARA TORRES

 

ModaLisboa - Fale-nos um pouco do tema e da proposta da sua colecção.

Lara Torres: O tema da minha colecção é “Becoming” – tornar-se - e tem a ver com o processo de passar de um estado para o outro. É a caracterização e concretização do estado de mudança, e isso é perceptível nas peças através de cortes que permitem a alteração de formas simples. A partir de uma forma básica, há uma sucessão e uma introdução de cortes que permitem que a forma inicial se transforme numa outra coisa.

 

Qual é a peça mais representativa da colecção?
Eu penso que talvez as mangas. São um detalhe mas é um detalhe que traduz bastante bem o conceito.

 

Se pudesse mudar alguma coisa na colecção, o que mudava?

Mudava sempre. Eu mudo até ao último minuto. Até ao último instante, estamos a produzir coisas e de certeza que apareceriam novas ideias para desenvolver.

 

Quais são as suas principais fontes de inspiração?
Tanta coisa: os trabalhos que vejo, as exposições que visito, os sítios por onde passo. Às vezes coisas muito simples que encontro, pormenores, mesmo na rua ou no dia-a-dia há coisas que me transportam e que me fazem pensar em ideias que eu posso desenvolver. Até mesmo detalhes em que eu reparo em pessoas que estão à minha frente, podem ser fontes de inspiração.

 

Quando está a desenvolver uma colecção pensa no público?

Vou ser completamente honesta: não. Não tenho o público em mente quando estou a trabalhar, estou antes concentrada no conceito, que é um trabalho de pesquisa. Estou, portanto, muito centralizada na pesquisa, no caminho que ela vai tomar e na informação que dela podemos recolher. Não tenho mesmo em mente o público. Penso em conceito, experimentação e depois no desenvolvimento a partir desses resultados da experimentação. Não posso dizer que estou a pensar no público quando estou a desenvolver a colecção, porque não estou.

 

 

 

RICARDO DOURADO

 

ModaLisboa - Fale-nos um pouco do tema e da proposta da sua colecção.

Ricardo Dourado: Inspirei-me um pouco na espiritualidade das Mães de Santo Baianas e tentei transformar as peças que elas usam em peças mais contemporâneas, mais vestíveis e até bastante mais sofisticadas. Mas não quis que elas perdessem a espiritualidade, por isso, se por um lado me afastei completamente do traje original para um traje mais feminino e mais sofisticado, por outro lado tentei agarrar essa espiritualidade e transpô-la para as propostas. A colecção é muito clara, em tons de branco e cinzas neutros, e depois tem uma abertura de luz com prata, que transmite esse espírito.  

 

Qual é a(s) peça(s) mais representativa(s) da colecção?
Talvez os três primeiros coordenados: são muito idênticos e são a nível conceptual os mais representativos. Mas o último, um vestido rosa, é aquele de que me sinto mais próximo porque foi todo feito por mim à mão.

 

Se pudesse mudar alguma coisa na colecção, o que mudava?

Mudaria tudo. Esquecia as saias compridas, fazia as calças mais largas, mudava muita coisa.

 

Quais são as suas principais fontes de inspiração?
Durante estes quatro anos que tenho apresentado na ModaLisboa, tenho percorrido sempre as minhas referências, que além de serem referências do quotidiano – como a maior parte dos designers actualmente, porque o quotidiano é tão forte, é tão inspirador, que conseguimos retirar dele interesses para criar colecções – vou buscar cortes ao traje do séc. XVI, ao traje masculino inclusive, para depois reestruturar um pouco esses cortes e ganhar novas identidades. Trabalho um pouco esse lado de identificar novas perspectivas, identificar o mesmo objecto de formas diferentes ou destruir esse objecto e criar novas identidades. Passa um pouco por aí.

 

Quando está a desenvolver uma colecção pensa no público? A opinião do público é importante para si?

É inevitável pensar se a colecção será bem aceite ou não. Neste momento, acho que me obrigo e tenho necessidade disso. Um projecto desta natureza só faz sentido se tiver alguma notoriedade, alguma visibilidade e algum feedback do público, porque este projecto é apoiado por uma empresa portuguesa e pela própria Associação ModaLisboa, que por sua vez também é co-financiada por várias identidades e não fazia sentido fazer este projecto para o meu ego, para mim. Isso faz com que seja importante que o público adira e goste do projecto. Por isso, penso também no público. Mas também é importante educá-lo, não quero que as coisas sejam gratuitas, tento especialmente pôr o meu cunho pessoal naquilo que faço e ter um trabalho coeso, coerente e evolutivo.  

 

 

 

PEDRO MOURÃO

 

ModaLisboa - Fale-nos um pouco do tema e da proposta da sua colecção?

Pedro Mourão: A minha colecção é uma colecção de reciclados, juntei oito colecções passadas e transformei as peças. Esta colecção tem muito trabalho, muita dedicação, muitas horas, muito envolvimento. Há aqui uma mensagem, evidentemente, que é importante. A mensagem da reciclagem, da crise que estamos a atravessar, da consciencialização que é necessário que exista urgentemente. Há uma mudança no Pedro Mourão e na maneira de estar, na maneira de viver e de agir, se calhar é por estar mais velho. Usar peles naturais neste momento seria impensável, portanto há realmente mudanças na minha postura e no mundo e quero com esta colecção chamar a atenção para o que está a acontecer – a crise económica, o capitalismo exacerbado que não funciona, a crise de valores que vivemos actualmente, o esquecermo-nos dos amigos e não termos tempo para nós e para os outros. É essencialmente um statement e uma mensagem muito forte que espero conseguir transmitir.

 

Qual a peça mais representativa da colecção?

A colecção funciona num conjunto, não consigo eleger uma peça. Tiveram todas tantas horas de dedicação e de transformação: tenho peças queimadas, coladas, bordadas, estampadas ou cortadas. Há aqui um trabalho artístico tão grande que eu não consigo eleger nenhuma. Acho que todas elas têm a sua mensagem.

 

Se pudesse mudar alguma coisa na colecção, o que mudava?

Neste momento não mudava nada. Está exactamente como quero. Há um pequeno filme que antecede a colecção que também é importante que as pessoas vejam, porque vão ser bombardeadas com imagens muito violentas do que está a acontecer no planeta. Eu não quero só alertar, eu quero provar que é possível mudar as coisas: não temos que comprar desenfreadamente e ser consumistas da maneira que somos. Se calhar temos que ter outra postura na vida, outra postura no mundo, porque o mundo já não é nada do que era, nem vai ser daqui para a frente. As pessoas têm que perceber que estamos numa crise tão grande, que o mundo nunca mais vai ser o que era e é importante essa tomada de consciência. Há aqui uma mensagem de esperança porque eu ainda acredito na raça humana e que o nosso bonito planeta azul vai durar mais uns anos, mas é urgente mudar a postura das pessoas.

 

Quais são as suas principais fontes de inspiração?

As pessoas em geral, todas as raças, todas as culturas, o ser humano com toda a sua força é a minha grande fonte de inspiração e as personalidades das pessoas. Há aquele ditado que diz: “Diz-me com quem andas, dizer-te-ei quem és”, eu quase que diria “Diz-me o que vestes e dir-te-ei quem és”. É um bocado isso, ou deveria ser isso, porque também acho que neste momento a moda tem um papel que não me agrada particularmente, porque as pessoas mascaram-se, as pessoas disfarçam-se, encarnam personagens que não são reais e há muita hipocrisia no meio disto tudo. Esta colecção é também uma mensagem contra isso e o facto de eu ir buscar figuras públicas para desfilar não é com o intuito de puxar o guardanapo cor-de-rosa, pelo contrário, é para que eles também tenham um papel activo e participativo na sociedade, como seres intelectuais e pensantes que são. Não temos que andar aqui apenas para “ser giros”, isso é o que menos interessa no meio disto tudo, mas sim para sermos seres pensantes e intervenientes na sociedade e eu acho que tanto eu como todos os meus colegas criadores temos que ser participativos e ter um papel activo na sociedade.

 

A opinião do público é importante para si?

Claro que sim. Eu sem o público passo a ser obsoleto. Deixa de fazer sentido, é como uma exposição: sem público não há espectáculo.

 

 

 

FILIPE FAÍSCA

 

ModaLisboa - Fale-nos um pouco do tema e da proposta da sua colecção?

Filipe Faísca – Mais uma vez há um determinado número de coisas que se repetem na etiqueta Filipe Faísca, como a preocupação com o handmade, com o artesanal, visível, por exemplo, nos crochets de ráfia. Uma inspiração muito anos 60 mas traduzida para uma linguagem de hoje, como por exemplo o trench-coat em ráfia. Depois temos um jogo geométrico: sendo a circunferência a forma perfeita que define a mulher, há intercepções de círculos e intercepções desses círculos no corpo feminino. Existem também algumas imagens intrusas no desfile: de repente vêem-se umas mulheres muçulmanas que passam com os vestidos, há uma burca, mas tudo hiper hiper feminino. Há ainda uns padrões aos quais chamo um romântico desfocado. É como se víssemos o romantismo através de um filtro impressionista: a chuva, a aguarela, as pinturas de flores, o vento que faz trepidar um pouco os padrões: são portanto padrões desfocados. Romântico desfocado.

 

 

Qual a peça mais representativa da colecção?
O trench-coat em ráfia.

 

Quais são as suas principais fontes de inspiração?
Os anos 60, vi muito os anos 60, filtrei-os imenso, passando pelos anos 20 e os anos 50. Como é que os anos 60 se poderiam tornar um pouco mais rácicos, mais orientais? Imaginemos uma mulher coquette dos anos 60 que vai de viagem para um país do norte de África. Como é que ela se vestiria? É um pouco isso.

 

A opinião do público é importante para si?
A opinião do público não é importante, de todo. Não é o público que me importa, o que me importa é que quando estou a desenvolver a colecção eu já estou a prever aquilo que é mais fácil de vender: peças com cinturas pouco marcadas que entram em mais do que um corpo, linhas fluidas, muitos vestidos. Sigo imenso as tendências.